sexta-feira, 26 de julho de 2013

Muito mais do que mães com açúcar.

Eu não tive a chance de conhecer a minha avó paterna. Ela morreu muito cedo, vítima de um câncer bastante agressivo. Mas apesar disso, me sinto muito conectada com ela. Cada vez que vejo a sua foto na carteira do meu pai, percebo o quanto somos parecidas fisicamente. Ela era uma mulher de expressões fortes, cabelos escuros e um olhar muito profundo.Não conheço seu sorriso, porque não era costume sorrir nas fotos naquela época. Mas às vezes me pego pensando nela sorrindo.
Minha avó materna partiu quando eu tinha uns sete anos. Se eu não me engano foi no dia sete de setembro. Me lembro que não me deixaram ir ao enterro para que eu não sofresse, já que éramos muito apegadas. Ela morava ao lado da nossa casa e inclusive tinha uma porta - uma especie de passagem mágica para mim - sempre aberta do nosso quintal pra sua casa. E eu usei muito esta passagem.
Quando minha mãe queria me dar umas palmadas, eu era a mais rápida em cruzar a fronteira e me aconchegar na barra da saia da minha vó Eva, que enchia a boca para falar "aqui em casa, tu não briga com a Lolinha", sem o menor interesse em saber o que eu havia aprontado. Mesmo sabendo que eu era medonha. Quando eu sentia o cheirinho de guisado e daquela couve refogada bem fininha que ela fazia (posso sentir agora mesmo, escrevendo este post), eu era a primeira a me sentar à mesa pra almoçar com ela. Quando as coisas não estavam muito boas para o meu lado lá em casa, eu dormia na casa dela. Foi ela que me inspirou a gostar de cozinhar, porque sempre me deixava sentar no balcão da pia ou colocava uma cadeira pertinho dela pra eu acompanhar o que ela estava fazendo e hoje eu repito este gesto com o Francisco. Ela me levava na feirinha para me ensinar a comprar legumes e verduras e apesar de eu ter roubado uma maçã e ter fugido dela, fazendo com que ela passasse a maior vergonha, ela me perdôou e entendeu que foi uma "peraltice" e que não iria mais acontecer. Ela era ruiva e me lembro bem do dia em que fomos tomar banho juntas e eu constatei -chocada- que ela era ruiva "até na perereca" e morremos de tanto rir.
Para mim a casa da vó Eva era sempre mais quentinha, mais cheirosa, eu podia ver televisão até mais tarde, não havia regras e em compensação, sempre tinha um docinho pra comer. Parecia que quando ninguém me entendia, ela sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. A impressão que eu tinha é que ela conseguia ver dentro de mim. Fico triste por não ter minhas vovós pertinho de mim e principalmente, pelo fato de o Francisco não ter conhecido as bisas.
Mas peço a Deus todos os dias que deixe com que ele conviva com as suas vovós muito mais do que eu convivi com as minhas. Ter avós por perto é um presente e uma chance para nossos pais se experimentarem mais leves, mais bobos, menos críticos, menos preocupados, menos educadores e menos responsáveis. Eu acho um amor quando o Francisco me conta que na casa da vovó Vera ele come salsicha, bolacha recheada e chocolate sempre que ele vai lá. Assiste televisão o quanto quiser e toma muito suco. Na casa da vovó Vera ele sempre come tudo, tudo. O feijão da Vovó Vera é sempre um sucesso. Com a vovó Cleci ele sempre busca um colinho e ela sempre tenta entender suas manhas e toda a vez que a coisa encrespa, puxa ele pro seu lado e diz "vem com a vó", mudando completamente de assunto e deixando a bronca pra mais tarde, quando a gente nem lembra mais o que ele tinha aprontado. E mesmo que digam que os pais educam e os avós estragam, eu tenho que admitir que é um estrago que só faz bem. Um viva enorme para as vovós.