sexta-feira, 20 de junho de 2014

O medo paralisa.

Faz um tempo que Fabricio e eu estamos conversando sobre ter mais um filho (ou filha).
Faz um tempo que estamos falando que merecíamos nos mudar para uma casa maior, mais confortável, com mais espaço, mais jardim, uma horta, quem sabe até um cachorro.
Mas a cada movimento que eu faço nesta direção, vem o medo e me paralisa.
Esta semana foi a morte do Gabriel, que de forma brutal e precoce foi tirado de perto das pessoas que amava, dos seus sonhos, foi impedido de seguir com seus planos. E em meio a toda a comoção, revolta e tristeza, infelizmente, o Gabriel é MAIS UMA vítima de um mundo caótico, onde valores como a vida não tem valor nenhum. Onde pessoas puxam o gatilho para sair sem levar nada, além da vida e dos sonhos de alguém, o que para ele (bandido) realmente não é nada.
E vendo esse mundo, que muitas vezes mais parece o inferno na terra, fico pensando que o melhor mesmo seria ter apenas o Francisco, pois já tenho medo suficiente de perdê-lo ou de faltar para ele.
Fico pensando que o melhor mesmo é continuar numa casa pequena, sem muito espaço, sem muito pátio, mas que é relativamente segura (será?) por estar num condominio fechado, com uma portaria 24h.
Mas é justo que as pessoas vivam com medo e abram mão de seus projetos e de seus sonhos?
É justo pensar que mesmo tendo trabalhado duro, batalhado e suado muito não seria bom trocar de carro, ou comprar um celular novo, ou um tênis bacana, pois vai chamar a atenção?
Nós estamos deixando de viver em função da criminalidade, que somada à impunidade, cria o pior dos mundos.
Temos alguns momentos de sossego, que até nos fazem ter a sensação de que está tudo bem, mas em seguida o medo vem e nos paralisa de novo.
As pessoas estão cada vez mais acuadas em suas casas, com medo de terem suas vidas invadidas pela violência. Saímos de casa rezando para voltarmos e rezando para que os nossos também voltem.
E eu realmente queria ter uma esperança genuina de que tudo vai melhorar, que o futuro reserva mudanças para melhor, mas realmente confesso que não sei. Talvez se nos unirmos e pressionarmos cada vez mais quem está no poder e que solicita nosso voto para trabalhar em prol das pessoas de bem, que trabalham, que ganham seu dinheiro honestamente, que pagam seus impostos, que acordam cedo, pegam trocentos ônibus e vivem com o pouco que tem com integridade e esperança, talvez comecemos a movimentar algumas mudanças. Talvez a solução seja até tomarmos o lugar de quem não está fazendo direito. Conhecermos a política, estudarmos e ocuparmos as cadeiras de quem está lá só para garantir o seu. Usar a nossa indignação para promover a mudança, para gritar bem alto "não estou satisfeito com isso!", para pensar em ideias que possam contribuir e dá-las a quem merece e que pode fazer acontecer. Existem muitas pessoas batalhando em várias instâncias para melhorar as coisas, mas são poucas, em comparação com a podridão já instaurada. Mas a cada nova eleição temos a chance de trocar frutos podres, por frutos bons. Pense nisso, e pense bem antes de apertar o botão da urna e confirmar seu voto! Por enquanto, a voz e o voto são as únicas armas que temos.