quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Você está preparada pro segundo?

E lá se foram seis meses. O enjôo passou, a sensação de estar o dia todo num catamarã na maré alta passou e a vida acontece normalmente. Às vezes até esqueço que estou grávida, mas o espelho do meu quarto insiste em me mostrar que não, não estou tão normal assim.
Tem alguns sinais do avançar da gestação que vão tirando um pouco da dignidade da gente. Ter que colocar os sapatos com o pé em cima de alguma coisa, por exemplo. Ou levar um certo tempo todas as noites para ver de que lado a barriga vai ficar melhor acomodada e tornar o sono mais tranquilo. Ou passar o dia todo indo ao banheiro, fazendo xixi em gotas, porque o bebê já esta pressionando a bexiga. Ou ter dificuldade para lavar pernas e pés no banho. Mas tem uma coisa que sempre me apavora e nessa hora eu sei que a gravidez já está indo pra reta final: não conseguir enxergar a própria perereca no banho (antes que riam, minha mãe me ensinou a chamá-la assim).  Tu tenta olhar, mas tem uma montanha na frente e por mais que tu estique a cabeça e se curve toda, não tem mais como ver a dita cuja. Mas este post não é sobre a minha perereca, definitivamente.
Estes dias, encontrei uma amiga (mãe de um) no estacionamento de um supermercado e ela me perguntou:
- E aí, preparada pro segundo?
A resposta veio automática e com um risinho nervoso:
- Não. Não estou.
E realmente eu acho que não estarei preparada até tudo acontecer. Talvez o fato de eu já ter vivido a maternidade com o Francisco me deixe um pouco mais consciente do que esperar. Encarando com mais naturalidade as noites que passarei dormindo pouco, não ficando tão ansiosa quando o Caetano chorar e eu ainda não souber os reais motivos do choro, por não conhecê-lo tão bem. Ou ter mais paciência com a questão amamentação que pode levar um tempinho até fluir bem. Mas preparada, acho que não é a palavra. Eu acredito que o dia-a-dia com o bebê é que vai nos preparando e nenhum filho é igual ao outro (quem tem mais de um sempre diz isso). O Caetano vai ter as questões fisiológicas e as necessidades básicas que são comuns a todos os recém nascidos, mas ele já virá com a sua personalidade, o seu jeitinho particular e só a nossa convivência é que vai nos aproximar e criar aquele laço entre mãe e filho que torna os dois um só.
É claro que a experiência nos traz algumas facilidades, como por exemplo, saber o que funcionou e não funcionou e tentar não cometer pequenos erros anteriores. O segundo filho sempre ganha neste sentido. Mas confesso que muitas das coisas que vivi com o Francisco já sumiram da minha memória, sobretudo as partes menos boas. Acho que a natureza se encarrega disso para a gente se lembrar só das partes boas e assim, seguir procriando. Mas no meu caso, não pretendo ter o terceiro. Encerro aqui minha participação para a continuidade da espécie humana. Tenho convicção de que aquela máxima é verdadeira: um é pouco, dois é bom, três é demais.