segunda-feira, 14 de abril de 2014

Eu quero a minha mãe.

Já é a segunda vez que ficamos com nossos sobrinhos Teteu (6 anos) e Laura (3 anos) lá em casa para proporcionar uns momentinhos de "casal sem filhos" para minha irmã e seu marido, afinal de contas, com dois filhos o "buraco é mais embaixo". E é sempre uma festa. Noite do pijama significa ir dormir mais tarde, espalhar todos os brinquedos possíveis pela casa, assistir filminho na TV e fazer lanches bem delícia (que eles escolhem). Desta vez, além de tudo isso (que já foi instituído como um padrão básico do evento) levamos todos ao teatro. A peça em questão era Romeu, Pipoca e Julieta. Baseado no romance de William Shakespeare, a peça contava a história de um casal apaixonado que havia se conhecido no baile da linguiça (isso mesmo), e em função do ódio entre suas famílias, era impedido de namorar. O palhaço Pipoca era o cupido da história e fazia de tudo para juntas os dois. Embora os meninos estivessem amando e morrendo de rir com a história, percebi que tinha uma pessoinha se sacudindo no meu colo: era a Lalá, soluçando de tanto chorar. Demorei pra perceber. Ela chorava tão baixinho e a peça era bem barulhenta. Perguntei:
- O que foi, Lalá. Não está gostando do teatro?
- Não. Eu queria sair daqui, didi.
- Tudo bem. Vamos dar uma voltinha, então. Eu nem estou gostando tanto desta peça, mesmo.
Peguei a pequena pela mão e saímos do teatro.
Então, ela olha pra mim e fala a frase que é o pior pesadelo de quem fica com crianças pra dormir em casa:
- Eu quero a minha mamãe. Me leva pra minha mamãe.
Só que a mamãe estava vivendo um momento a dois com o papai e eu não gostaria de atrapalhar de jeito nenhum. Então, respirei fundo e fui tentando mudar o foco.
- Lalá, o que tu acha de a agente dar uma voltinha na quadra? Só eu e tu?
- Pode ser, didi.
Saímos caminhando, bem devagarinho. Eu mostrando algumas flores e coisinhas que eu ia percebendo pelo caminho que podiam interessar a ela e fazê-la esquecer da mãe (pelo menos naquele momento).
Depois de um tempinho andando, ela diz:
- Vamos voltar, Didi?
- Tu quer voltar pro teatro?
- Não. Quero ficar ali na frente esperando os meninos.
- Tá bem. Tem um sofá ali (no saguão) e podemos sentar ali e esperar.
Sentamos e eu mexendo na bolsa, descobri um pirulito.
- Quer um pirulito?
- Sim.
- Didi?
- O que foi, Lalá?
- Posso ouvir músicas no teu celular?
- Claro.
Coloquei Daft Punk, que ela adora e ficamos as duas atiradas no sofá ouvindo.
- Acho que agora não tenho mais medo.
- Tu quer voltar pro teatro e ver o Pipoca?
- Sim. Quero, sim.
Entramos, procuramos um lugar mais afastado do palco e ela assistiu o resto da peça e morreu de rir.
No final até fotos com a Julieta ela quis tirar.
E não perguntou mais da mãe até o outro dia.

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