quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Francisco.

Ele sorri com os olhos.
O seu sorriso ilumina o dia mais escuro.
O carinho das suas mãos tão pequeninas, manda para longe tudo o que não é importante.
Ele me ensinou que existia dentro de mim um tipo de amor que eu jamais imaginei sentir.
Me mostrou que sou capaz de coisas que nunca pensei realizar.
Me ensinou sobre generosidade, desprendimento, paciência, humildade, criatividade e amor.
E me fez enxergar que nada tem mais valor do que simplesmente ser feliz:  com o que se tem, com o que se é, com o que se pode ser.
Depois dele, eu nunca mais passei um dia sem dizer "eu te amo".
Depois dele, eu nunca mais passei um dia sem ouvir "eu te amo".
Às vezes me pego pensando nele e invariavelmente, meus olhos se enchem de lágrimas. Pura felicidade por ter a sorte de ter perto de mim alguém assim tão especial e que só me faz querer ser melhor, todos os dias.
Hoje fazem quatro anos que ele nasceu e neste mesmo dia eu nasci também.




segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Quando um tapa dói na alma.

Fiquei pensando se deveria ou não escrever este post, pelo simples fato de que ele relata algo de que não me orgulho. Mas decidi escrever, pois sei, que quem é pai ou mãe vai passar por isso um dia.

Quando eu fui criança não havia bullying. As crianças apontavam os defeitos umas das outras, debochavam e até eram bem cruéis, às vezes. Mas era só isso. Sem um nome diferente e nem tanta repercussão. Ficávamos de mal uns dias, não brincávamos mais com este ou aquele amiguinho, contávamos em casa, para as profes e tudo acabava se resolvendo. Eu ter trocado uma festa de 15 anos por uma plástica nas orelhas foi graças ao tal bullying. Mas tenho que admitir que fiquei bem melhor.

Da mesma forma como não havia recriminação às palmadas. Aliás, o que havia era o incentivo a elas, como forma de impor limites, educar e repreender. Eu até que levei poucas palmadas. O que mais levei foram varadas. Me lembro bem daquela árvore de chorão no nosso quintal, que tinha galhinhos finos e tão longos, que quase faziam a volta nas pernas. Não era nada bom levar uma daquelas. A árvore de chorão era altamente eficiente na repressão de travessuras.

Da geração de pais de hoje foi tirado o direito à palmada. O ato de bater em um filho se tornou algo extremamente condenável, porque tudo indica (e não digo que não faça sentido) que bater não resolve nada. Tanto é que lá em casa, tudo sempre se resolveu na base da conversa, dos pequenos castigos, da cadeirinha de pensar, do brinquedo que fica "imbrincável" uma semana ou mais, do corte da televisão ou do chocolate no final de semana.

E fomos levando assim até que na semana passada o Francisco nos desafiou tanto, mas tanto, que no final de tudo o que restou foram 4 palmadas na bunda dele e uma noite inteira de extrema culpa para mim. Me sentindo uma monstra, dormi mal, chorei sozinha e fiquei pensando se não poderia mesmo ter resolvido de outra forma. E a resposta é simples: até poderia, mas não foi possível naquele momento.

Como é difícil educar um filho. Saber o limite entre ser dura demais e branda demais. Conseguir ler nas entrelinhas quando a criança está te manipulando (e eles são ótimos manipuladores, vai por mim). Entender o momento certo de punir, de valorizar, de incentivar, de repreender.

Formar homens e mulheres de valor, respeitosos, que saibam lidar com as oscilações da vida, com os inúmeros nãos ao longo do caminho, que tenham uma postura de atitude diante dos desafios, que batalhem por um lugar ao sol, aceitando suas qualidades e seus defeitos, tudo passa pela edução, que é de total responsabilidade dos pais. Educar começa em casa e depois, continua na escola. E o tempo é curto. Muitos alertam que a base da formação do caráter de uma criança acontece até os seis anos e que depois é bem mais complicado educar, pois a base do caráter já está formada.

Não pretendo voltar a dar umas palmadas no Francisco, mas não posso prometer. Embora não queira repetir o modelo de educação que eu e muitos da minha geração tiveram, onde havia muito pouco espaço para o diálogo e tudo era muito unilateral.

Educar com base no amor é muito mais fácil. Uma criança precisa respeitar os pais pela autoridade que eles representam e não com base no medo. 

Temos ainda dois anos pela frente e gostaria muito acreditar que estamos no caminho certo.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O Francisco e o show de uma música só.

Estes dias eu estava lembrando de momentos engraçados que passamos com o Francisco nestes quase quatro anos e me lembrei de um episódio que merecia ficar registrado no blog.

O Francisco com pouco mais de dois anos e ainda apaixonado pela dupla de palhaços Patati, Patatá nos pediu pra ir no show deles, em Novo Hamburgo. Mesmo não sendo o melhor dos programas na nossa opinião, resolvemos fazer a vontade dele. Durante as duas semanas que se seguiram, ele só falava nisso:

- É hoje o show do Patati, Patatá?
No outro dia.
- Já é o dia do show, mãe?
No outro dia:
- Tá demorando muito pro show, pai. Não é mesmo hoje?

Até que finalmente chegou o tão esperado dia. E que dia: um frio daqueles, chovendo, o Francisco com faringite e eu e o Fabrício sem a mínima vontade de sair de casa. Mas para o Francisco era o dia mais importante da vida e ele passou o tempo todo falando no assunto. A tarde foi passando e resolvemos tirar um cochilo, afinal o show era só às 16h00 e aquela chuvinha pedia uma soneca em família.
Acoredi num sobressalto, meio sonhando, meio acordada, me lembrei do compromisso e olhei no relógio, que marcava 17h.
Meu Deus! Pulei da cama, chamei o Fabrício, acordamos o Francisco, mal nos vestimos e fomos. Não queria ficar com este peso na consciência.
Chegamos lá esbaforidos e encontramos um mar de crianças e pais e lá (mas bem lá) na frente estava a dupla mais pop da criançada.
O Francisco foi pra garupa do Fabrício e empolgadíssimo cantou uma música inteirinha, coisa mais amada.
Quando termina a música, os palhaços falam:
- Valeu turminhaaaaaaaa. Foi demaaaaaiiisssss. Até a próxima! E vão embora.
Eu olhei pro Fabrício com uma cara de culpa, pensando que o Francisco ia colocar nosso nome na boca do sapo quando fizesse 18 anos e antes que eu fosse cortar os pulsos, ele com os olhos brilhando e um sorrisão no rosto, nos chama e comemora:
- Mamãe, papai, eu "adorô" o show do Patati, Patatá.

Até hoje lembramos deste dia e damos boas risadas. As crianças tem um jeito todo especial de ver a vida e isso é o que torna a infância uma fase tão sublime.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O Incrível Hulk, o espinafre e o omelete.

Toda mãe vai passar por isso um dia: até os dois anos o filho (a) come de tudo, não faz cara feira para quase nada e de repente, como se apertassem um botão secreto, ele simplesmente começa a torcer o nariz para alimentos já conhecidos, e a frase "não gosto disso" começa a virar rotina na hora das refeições.
O espinafre foi um dos renegados pelo Francisco e eu estava inconformada, porque amo espinafre e adoro fazer receitas com ele. Ontem, tinha um pacotinho de espinafre dando sopa na geladeira e eu pensei: é hoje que vamos fazer o espinafre voltar para o cardápio.
Enquanto o Francisco terminava o banho, montei a estratégia: usar a fixação dele pelos super heróis para criar um prato cheio de super poderes. Peguei dois ovos (ele ama ovos), bati com um pouquinho de sal e alguns temperinhos e muiiiiito espinafre. Ficou com uma cor verde bem escura, a cara do incrível Hulk. Gritei pro Francisco:
- Filho, sabe o que a mamãe está fazendo pra gente jantar? O omelete do Incrível Hulk.
- Noooosssa, mãe. Tráz aqui pra eu ver?
Levei o potinho pra ele, que olhou e disse:
- Acho que não vou gostar.
- Eu não tô acreditando que tu vai deixar de ter os poderes do Hulk.
- Mas mãe, eu prefiro os poderes do Batman.
- Tá, outro dia a gente faz uma comida com os poderes do Batman. Hoje é o poder do Hulk.
Ele saiu do banho desconfiado. Coloquei o pijama e convidei ele pra colocar o omelete na frigideira comigo. Ele preferiu ver TV. Fiz o omelete (na verdade rendeu dois omeletões) e coloquei na mesa.
Chamei ele, que sentou, olhou e disse:
- Eu não vou gostar, mãe.
- Como assim? Tu nem experimentou?
- Me dá um pedacinho, então.
Coloquei uma tirinha no seu prato e ele com uma cara de dar dó, colocou a ponta da lingua no omelete e disse:
- Não, não gostei.
- Francisco, só um poquinho! Experimentar não é isso. Experimentar é colocar um pedaço na boca e mastigar. Tem que dar tempo pra tua boca ver se gosta ou não.
- Tá, mãe. Colocou um pedaço bem maior e mastigou. Nisso, fui pegar uma coisa no fogão e quando voltei, tinha comido tudo.
- E aí, filho?
- Mãe, esse omelete do Hulk é muito bom. Coloca um pedaço dentro do meu sanduíche, com azeitona e queijo. Daí tu faz sanduiche quente com omelete do Hulk dentro. Acho que é uma boa ideia.
Resultado? Ele comeu o omelete dele todinho e metade do meu, mais o sanduíche.
E para finalizar com chave de ouro, ao invés de pedir suco pronto, ele me "ensinou" a fazer limonada, igual a que o papai faz pra ele.
Depois veio me mostrar como estava forte e como pulava do sofá bem alto e fazia "golpes de força, muito fortes."
E eu fiquei rindo sozinha e pensando em como a gente pode usar o imaginário infantil a nosso favor, em diversas situações. Vale pro espinafre, vale pro comportamento, vale pra tudo.
E aí? O que vocês já fizeram para convencer seu filho (a) a experimentar algo novo?


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Muito mais do que mães com açúcar.

Eu não tive a chance de conhecer a minha avó paterna. Ela morreu muito cedo, vítima de um câncer bastante agressivo. Mas apesar disso, me sinto muito conectada com ela. Cada vez que vejo a sua foto na carteira do meu pai, percebo o quanto somos parecidas fisicamente. Ela era uma mulher de expressões fortes, cabelos escuros e um olhar muito profundo.Não conheço seu sorriso, porque não era costume sorrir nas fotos naquela época. Mas às vezes me pego pensando nela sorrindo.
Minha avó materna partiu quando eu tinha uns sete anos. Se eu não me engano foi no dia sete de setembro. Me lembro que não me deixaram ir ao enterro para que eu não sofresse, já que éramos muito apegadas. Ela morava ao lado da nossa casa e inclusive tinha uma porta - uma especie de passagem mágica para mim - sempre aberta do nosso quintal pra sua casa. E eu usei muito esta passagem.
Quando minha mãe queria me dar umas palmadas, eu era a mais rápida em cruzar a fronteira e me aconchegar na barra da saia da minha vó Eva, que enchia a boca para falar "aqui em casa, tu não briga com a Lolinha", sem o menor interesse em saber o que eu havia aprontado. Mesmo sabendo que eu era medonha. Quando eu sentia o cheirinho de guisado e daquela couve refogada bem fininha que ela fazia (posso sentir agora mesmo, escrevendo este post), eu era a primeira a me sentar à mesa pra almoçar com ela. Quando as coisas não estavam muito boas para o meu lado lá em casa, eu dormia na casa dela. Foi ela que me inspirou a gostar de cozinhar, porque sempre me deixava sentar no balcão da pia ou colocava uma cadeira pertinho dela pra eu acompanhar o que ela estava fazendo e hoje eu repito este gesto com o Francisco. Ela me levava na feirinha para me ensinar a comprar legumes e verduras e apesar de eu ter roubado uma maçã e ter fugido dela, fazendo com que ela passasse a maior vergonha, ela me perdôou e entendeu que foi uma "peraltice" e que não iria mais acontecer. Ela era ruiva e me lembro bem do dia em que fomos tomar banho juntas e eu constatei -chocada- que ela era ruiva "até na perereca" e morremos de tanto rir.
Para mim a casa da vó Eva era sempre mais quentinha, mais cheirosa, eu podia ver televisão até mais tarde, não havia regras e em compensação, sempre tinha um docinho pra comer. Parecia que quando ninguém me entendia, ela sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. A impressão que eu tinha é que ela conseguia ver dentro de mim. Fico triste por não ter minhas vovós pertinho de mim e principalmente, pelo fato de o Francisco não ter conhecido as bisas.
Mas peço a Deus todos os dias que deixe com que ele conviva com as suas vovós muito mais do que eu convivi com as minhas. Ter avós por perto é um presente e uma chance para nossos pais se experimentarem mais leves, mais bobos, menos críticos, menos preocupados, menos educadores e menos responsáveis. Eu acho um amor quando o Francisco me conta que na casa da vovó Vera ele come salsicha, bolacha recheada e chocolate sempre que ele vai lá. Assiste televisão o quanto quiser e toma muito suco. Na casa da vovó Vera ele sempre come tudo, tudo. O feijão da Vovó Vera é sempre um sucesso. Com a vovó Cleci ele sempre busca um colinho e ela sempre tenta entender suas manhas e toda a vez que a coisa encrespa, puxa ele pro seu lado e diz "vem com a vó", mudando completamente de assunto e deixando a bronca pra mais tarde, quando a gente nem lembra mais o que ele tinha aprontado. E mesmo que digam que os pais educam e os avós estragam, eu tenho que admitir que é um estrago que só faz bem. Um viva enorme para as vovós.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A síndrome da calcinha paraglider.

Mais do que saber se existe vida após a morte, muitos casais querem saber como vai ser a vida sexual depois de colocar uma terceira pessoa na relação. Pode parecer alguma fantasia erótica, mas neste caso, a terceira pessoa (ou a 4a, ou a 5a) é um filho.
Não vou mentir, nos primeiros meses é bem complicado pensar (e fazer) em sexo.
Todas as atenções se voltam para aquele micro pedacinho de gente que só sabe chorar para dizer o que sente. E a rotina do mama, arrota, troca, dorme, acorda, mama, arrota, troca, dorme é bastante cansativa. Nos primeiros meses a gente vira "pai" e "mãe" mesmo e o sexo vira uma lembrança de um passado não muito distante.
Mas vamos ser sinceros, ser apenas pai e mãe am pm não é nada sexy.
Apesar de toda a mudança, de todo o cansaço, de toda a nova rotina que acaba vindo junto com os filhos, é importante manter um lugar sagrado para alimentar a relação de casal.
Um dia, numa conversa com minha terapeuta, ela me perguntou quem era a pessoa mais importante da minha vida e eu respondi em meio segundo: o Francisco. Questionei a cara de desapontamento dela e ela me falou uma coisa que me fez pensar. Que apesar do amor por um filho ser algo sem explicação, filhos são criados para serem autônomos, ganharem o mundo e viveram suas vidas, independente dos pais. Se colocamos o filho acima do relacionamento do casal, invariavelmente vai ficar faltando alguma coisa no futuro. Acho que aquela síndrome do ninho vazio vem muito disso.
As pessoas se realizam tanto como pais e mães e se dedicam tanto a isso, que ao longo dos anos vão esquecendo de se realizar nas outras áreas da vida e quando os filhos vão embora, fica faltando alguma coisa.
A vida, a rotina, a pressão vão nos colocando num modo automático onde não é difícil que tudo seja sempre igual. Precisa movimentar. Precisa abandonar aquela calcinha confortável que mais parece um paraglider (e isso vale para cueca também) e vestir algo mais sexy, mesmo não sendo tão confortável assim.
É muito mais fácil fazer as coisas sempre do mesmo jeito, do que mudar. Muitos casais que tem filhos passam por crises (e eu mesma já passei por algumas) pelo simples fato de pararem de olhar um para o outro. Os elogios vão só para os filhos. Os melhores presentes vão para os filhos. Quando estão juntos sem os filhos, só falam dos filhos. Param de sair sozinhos. Não tem tempo para ficar sozinhos e quando sobra tempo, não faltam desculpas. Então, o casal esfria e vai ficando só o "pai" e a "mãe". E casamento é a união de muitas coisas e uma das mais importantes delas acontece entre quatro paredes.
Então, aproveitando que hoje é o Dia dos Namorados, coloque o filho (ou os) pra dormir mais cedo ou envie a prole para a casa dos avós, ou chame a babá, e tire um tempinho só pra vocês dois. Encha seu marido ou esposa de elogios. Diga o quanto é importante para você. Fique junto, bem pertinho mesmo, não um em cada sofá. Abrace, amasse, dê um beijo demorado. Diga que ela é linda. Diga que ele é lindo. Lembrem daquelas coisas (que só vocês sabem) que fizeram com que um se apaixonasse pelo outro. Mas independente do que tenham planejado pra hoje, não percam a chance de ser "só" dois sempre que puderem. Casar é muito bom, mas namorar é muito melhor, mesmo já sendo casados. Feliz dia dos Namorados.



terça-feira, 4 de junho de 2013

Dizer não, é dizer sim.

Tenho observado uma tendência perigosa na educação das crianças: a falta do "não".
Muitos pais têm aberto mão do seu direito de dizer não, para evitar o choro, a birra, os conflitos.
Parte disso tem nome: culpa.
A necessidade da grande maioria dos casais de trabalhar fora, faz com que pais e mães passem menos tempo com os filhos e no pouco tempo que tem juntos, não querem ficar repreendendo, brigando, educando.
O resultado disso são pequenos reis e rainhas que comandam a casa e definem a hora de comer, de brincar, de olhar televisão e até de dormir.
Crianças que se atiram no chão quando contrariadas, que batem nos pais, que não conseguem se portar em restaurantes, cinemas, supermercados ou na casa de estranhos.
Meninos e meninas com menos de 4 anos que não conseguem ouvir a palavra não sem surtar.
Que não respeitam professores (as), que não toleram limites e que não conseguem conviver em grupo.
Quem é pai e mãe sabe que, mais dia menos dia, todos vamos passar por um ataque de fúria no supermercado, por um tapa na cara, por um berreiro interminável, pela vergonha de ver um filho fazendo uma cena na frente de estranhos. Mas o fato é como lidar com isso. Como mostrar quem tem o crontrole e acima de tudo, fazer com que a criança entenda que não é na base do grito e do choro que ela vai ganhar o que quer. Se toda a vez que a criança chora ela ganha o que quer, é óbvio para ela que é assim que funciona: eu choro, eu ganho. E isso começa muito antes das primeiras palavrinhas. Quando bebês, já sabem manipular e fazer algumas relações de como as coisas funcionam ou podem funcionar.
O Francisco mesmo jogou um prato de lentilha no chão quando nem sabia falar, pelo simples fato de eu ter insistido para que ele comesse. Mas independente da ira que eu senti na hora, deixei bem claro que aquilo era errado e que teria uma conseqüência. Ele ficou sem almoço e só pode comer de novo na próxima refeição. E mesmo com o coração apertado, sabendo que ele ficaria com fome antes disso, não cedi. E nunca mais aconteceu. Não movemos nada da decoração da casa em função de ter um bebê circulando e também não pedíamos para fazerem isso quando íamos visitar alguém. Explicamos para ele desde cedo até onde ele poderia ir, que havia peças que não poderiam ser mexidas, nem tiradas do lugar e perdemos a conta de quantos "nãos" falamos até que ele entendesse. Ensinar é um exercício de repetição constante até que a criança assimile e cada vez me convenço mais de que não tem fim. Muitas vezes cansa, esgota até, mas uma criança precisa de limites até para sua própria segurança. Ela precisa saber que tem alguém acima dela, que responde por ela, que irá ampará-la e organizar a sua rotina. Uma criança sem limites se torna perdida e carente.
Vai testar todos os limites pelo simples fato de precisar que alguém diga, claramente, até onde ela pode ir.
Dizer não é dizer sim a crianças mais educadas, mais amorosas, menos rebeldes.
Dizer não é dizer sim a dolescentes mais conscientes de suas responsabilidades, mais respeitosos com os outros, mais engajados diante da vida.
Dizer não é dizer sim a adultos mais capazes de compreender seu papel no mundo e na sociedade.
Dizer não é dizer sim a pais e mães com mais capacidade de educar seus filhos com base no amor e na verdade, sem minimizar ou esconder a realidade.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Eu não uso mais fralda.

O Francisco está com três anos e sete meses.
Para nós, isso significa "quase quatro". Para ele, é muito mais do que isso. Ele infla o peito e repete, como se fosse um mantra "eu não sou mais um bebê".
Até uma semana atrás ele ainda usava fralda para dormir. E até uma semana atrás Fabrício e eu tínhamos decidido tirar a noturna só na primavera, para evitar colchão molhado, pijama molhado e todo o desgaste de passar por isso em noites geladas, onde tudo o que não se quer é ter que sair debaixo dos cobertores.
Mas como eu disse, isso foi até semana passada. Chegamos em casa uma noite e quando pegamos a fralda o Francisco simplesmente surtou:
- Eu não sou mais um bebê! Eu não vou usar "folda". Não vou, não vou. "Pur favoe!!!"
E tudo isso com lágrimas muito sinceras nos olhos, num lamento de dar dó.
Fabrício e eu nos olhamos e descombinamos o combinado imediatamente.
E sabem o que isso significa?
Desde a semana passada voltamos a acordar de madrugada. Ele começou a dormir a noite toda com um mês de vida e raramente acordava à noite. Mas agora, com três anos e sete meses, temos que acordar de madruga pra levar o mocinho para o banheiro. Ele vai dormindo e volta dormindo e pouco se lembra o que houve. Já eu, depois de acordar levo um tempão pra dormir de novo. E o mais frustante é que muitas vezes já é tarde demais e quando chegamos lá, o pijama já está mijado.
Mas agora não temos como voltar atrás. Ele já está todo orgulhoso de não usar fralda pra dormir e conta para cada um que encontra a grande novidade. Eu não tenho coragem de tirar isso dele.
E vai ter um momento em que ele simplesmente vai conseguir segurar o xixi à noite, assim como ele aprendeu a segurar durante o dia. Neste pouco tempo no papel de mãe eu aprendi que muitas conquistas do desenvolvimento dos pequenos acontecem de repente. Quando a gente vê, já foi. Foi assim com relação a dormir a noite toda, ao refluxo, à fala,  a comer sozinho, a largar a fralda diurna e a deixar a mamadeira. Simplesmente aconteceu no momento em que ele estava pronto. É o milagre do desenvolvimento e ao mesmo tempo, um exercício para mim, que adoro estar no núcleo da coordenação, que adoro que tudo aconteça como eu quero. O Francisco e suas fases tem me ensinado muito sobre paciência, resiliência, respeito, observação, tolerância, auto-controle e o que significa de verdade amar alguém. E eu simplesmente esqueço que abri não de um pouco do meu sono todos os dias quando entro no quarto dele e ele me abraça e me beija com aquele bafinho de sono e me diz:
"mamãe, eu te amo muito mais".

sexta-feira, 10 de maio de 2013

(Quase) Tudo sobre minha mãe.

Quando eu penso na minha mãe penso em uma mulher forte, talvez a mais forte que eu tenha oportunidade de conhecer. Mas ao mesmo tempo me vem uma mulher frágil, que se emociona com um comercial de TV, que enche os olhos d´agua quando diz eu te amo, que desde de que eu era muito pequena até hoje, caminha comigo de mãos dadas e sempre me recebe e se despede de mim com um selinho. Se ela não fosse filha única, eu até poderia pensar que era irmã da Hebe.
Quando eu penso na minha mãe eu me lembro de um lindo sábado de sol em que fomos tomar sorvete (meus pais, eu e meus irmãos) num daqueles dias comuns em família, mas que acabou se tornando o dia em que quase a perdemos, vítima de um aneurisma cerebral muito grave.
Quando eu penso na minha mãe me lembro do otimismo dela ao afirmar que iria dar tudo certo, mas também me lembro de ver lá no fundo dos seus olhos o medo e o desejo de ter uma nova chance para poder revisitar a sua história e construir uma nova ao nosso lado.
Me lembro da quase alta e logo depois, da tal recaída clínica e em seguida, o coma.
Me lembro dos meses em que eu e meus irmãos moramos com amigos queridos dos meus pais, achando que estávamos meio de férias, meio de castigo. Me lembro do meu pai sempre nos dizendo que estava tudo bem, mesmo sabendo que não estava e talvez nunca mais estivesse. Mas não existem pessoas com mais fé que meus pais. E me atrevo a dizer que nunca vi um casal se amar tanto quanto os dois. Acho que estas duas palavrinhas "fé" e "amor" tiraram minha mãe do coma e ela voltou pra casa.
Me lembro do dia em que ela chegou em casa: entrou pela garagem completamente careca, com uma enorme cicatriz na cabeça, falando como um bebê que está aprendendo a falar e mesmo assim, ela estava linda pra  mim.
Nos abraçamos nela e choramos mesmo não entendendo tudo o que ela tinha passado e tudo que ainda iria passar.
Sem fala e quase sem memória, minha mãe teve que reaprender tudo.
Me lembro do caderno de caligrafia igual ao meu da primeira série e ela se esforçando para escrever. Lembro das idas ao supermercado para ensinar o que era um tomate, uma alface, uma banana.
Apesar de ter perdido parcialmente a memória ela não tinha perdido o gosto pela cozinha e muitas vezes comemos comida adoçada dizendo que estava maravilhosa, porque ela trocava o sal pelo açúcar ou o açúcar pela farinha e a gente morria só de pensar em decepcioná-la.
Me lembro da primeira quase frase que ela falou no meio de um almoço: "esperção de perspeção" e mesmo não significando nada concreto, comemoramos pelo simples fato de ela ter conseguido falar algo. Eu, minha irmã e meu irmão éramos "dódi". Quando ela chamava "dódiiiiiiiiii" íamos os três para ver qual deles ela queria. E à medida em que o tempo passava, que as aulas de fonoaudiologia iam acontecendo, a minha mãe (aquela do sábado à tarde, sorridente tomando sorvete) ia voltando.
Ela se esforçava tanto que até parecia sentir dor às vezes. Mas nunca desistia. E quando percebemos, ela tinha atingido 90% de recuperação de um caso em que o médico havia afirmado que deveríamos ficar felizes com 20%, talvez 30%. E de lucro ficou com um sotaque no estilo "americana que mora há pouco tempo no Brasil" e que nos rendeu histórias engraçadas como o dia em que americanos puxaram assunto com ela numa locadora de vídeo, ou o dia em que ela fez uma "barbeiragem" no trânsito e foi liberada pelo policial por que não era "daqui" (comigo ao lado ajudando a mentir).
E por tudo isto, não existe no mundo todo, maior significado para a palavra Mãe do que a minha mãe e tudo o que ela representa: força, alegria, determinação, coragem, persistência, dedicação, paixão (pela vida, pelo marido, pelos filhos, pelos netos, pelos amigos e até pelos parentes), autenticidade, honestidade, compaixão, talento para receber e fazer com que todo mundo se sinta em casa.
Minha mãe é uma mulher que nos inspira a sermos mães tão poderosas quanto ela, tão amorosas quanto ela, tão generosas quanto ela.
Quero terminar pedindo desculpas a ela por todas as vezes em que eu não entendi o que ela queria falar e por todas as vezes em que não quis me esforçar para entender. Hoje eu a entendo até de olhos fechados, mas isso é algo que só a maturidade faz por nós. O que passou, passou... paciência.
E aproveito para agradecer ao meu pai por ter sido pai e mãe de três filhos durante muito tempo, por ter aguentado as nossas crises de adolescente, a nossa rebeldia sem razão e tantas outras barras complicadas para segurar sozinho. Hoje, tudo voltou ao normal e os "sábados de sol com sorvete" estão cada vez melhores e muito mais divertidos.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Um mundo sem mulheres seria igual a um mundo sem homens: muito chato.

Fazia muito tempo que eu não assistia ao Fantástico. Mas com a tv a cabo fora do ar, acabei assistindo a abertura da nova série "mundo sem mulheres", onde onze homens aceitam encarar o desafio de ficar uma semana sem as esposas em casa, assumindo sozinhos o cuidado com os filhos, com a casa, o trabalho e todos os itens que envolvem administrar uma família.
Os perfis foram escolhidos a dedo: tem pai de trigêmeas de menos de três anos, pai de pré-adolescentes, pai de menina. Tem pai preguiçoso, pai machista, pai mau humorado e pai calmo até demais. Vários estilos de vida e de encarar a rotina diária e o papel de cada um nela.
Mas também tem vários tipos de mãe: mãe que só cuida dos filhos e nunca passou um dia longe deles na vida, mãe multitarefa e mais descolada, mãe autoritária e centralizadora, que mesmo que nunca tenha limpado o banheiro todos os dias, quer que o marido limpe enquanto estiver fora.
A proposta é simples: férias para elas e trabalho duro para eles durante sete dias.
Na despedida: elas choraram e eles fizeram uma churrascada para comemorar.
Nas entrelinhas elas estavam dizendo: "será que eles sobreviverão sem mim? Vou morrer de saudades." E eles: "Vai dar tudo certo, claro."
Mas o que me chamou mais atenção é que vários séculos se passaram e parece que ainda existe, em muitas famílias, aquela visão de que o papel do homem é prover a família e o da mulher, o de cuidar da casa e dos filhos. Só que hoje, grande parte da mulheres trabalha fora e a organização da família, da casa, do casal está sendo cada vez mais dividida entre os dois (ou não).
Posso dar o exemplo lá de casa: eu amo cozinhar, então, a cozinha é minha (e com a louça e tudo, pq eu gosto de lavar louça e não gosto de secar). Em contrapartida, eu odeio lavar roupa, e a organização da roupa é do Fabrício. O jardim também fica com ele, pq não levo o menor jeito com cortador de grama e não sei podar árvores. Ele sabe. Quando o assunto é o Francisco tudo foi sempre dividido: eu levo, ele busca. Eu dou banho e ele troca e vice-versa. Quando chora à noite, a gente também tenta revesar, embora o meu sono seja bem mais leve e eu ouça qualquer suspiro, o que me leva, na grande parte das vezes a pular da cama primeiro. E a limpeza da casa fica a cargo da faxineira que vai uma vez por semana e a gente promete (e se esforça) manter a casa em ordem até a próxima visita.
E assim a vida segue.
Mas tem uma coisa no comportamento da grande maioria das mulheres que muitas vezes incentiva essa postura mais light dos homens em casa: o sentimento de que ela faz melhor que ele, é mais antenada que ele, faz mais de uma coisa ao mesmo tempo e ele não. Quando ele pensa em fazer, ela já foi lá e fez. Mas na verdade, e eu aprendi isso na marra, não tem o melhor jeito de fazer, o que existe é fazer e pronto. Cada um do seu jeito.
Às vezes eu fico observando e percebo que o Fabrício dá banho no Francisco de um jeito totalmente diferente do meu. Eu troco o Francisco de um jeito diferente dele. Ele dá bronca, diferente de mim e por aí vai. Na hora de escolher roupa, é sempre diferente. Mas cada um faz a sua parte do seu jeito e procura não sobrecarrega o outro com tudo.
E tenho certeza de que a grande maioria (se não, todas) dessas onze mulheres vai ficar de queixo caído ao perceber que seus maridos deram conta do recado. E a grande maioria dos homens vai perceber como é complicado fazer tudo zozinho, apesar de ser possível. Vão valorizar mais suas esposas ao final desta semana. Mas o saldo será positivo para ambos os lados, com toda a certeza.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Reunião de pais ou momento para falar dos filhos?

Ontem foi a reunião de abertura do ano letivo na escolinha onde o Francisco estuda. Como eu tinha tido um dia cheio e estava muito cansada, fiz algo que não combina muito com meu perfil tagarela: fiquei ouvindo muito mais do que falando.
E por isso, pude perceber muitas coisas nas entrelinhas e entender um pouquinho mais desse universo dos pais e mães.

- Pais e mães podem ser muito inseguros quando o assunto é como meu filho está se desenvolvendo:
Distinguir as cores, identificar letras, aprender a não comer a pasta de dente, aprender a contar uma história com começo, meio e fim, saber ir ao banheiro sozinho, tirar a fralda noturna, largar a mamadeira, o bico... tudo isso, deixa os pais aflitos e embora todos digam que cada criança é diferente da outra, as comparações são inevitáveis.

- Pais e mães podem virar uma fera quando o assunto é a integridade de seu filho:
A grande maioria dos pais trabalha fora e a escola acaba sendo uma extensão da própria família. É ali que os pequenos constróem as primeiras relações, começam a ter noção de coletividade, de limites, de respeito, de amizade. Mas em algum momento alguém será mordido ou morderá. Pode acontecer um tombo ou outro, uma briga por disputa de brinquedos e em meio a uma turma de várias crianças haverá momentos em que o professor não vai poder evitar. Então os pais precisam ter bom senso para compreender que existe uma difereça enorme entre negligência e acidente.

- Pais e mães (neste caso, mais mães) sempre falam ao mesmo tempo e querem dividir uns com os outros as aventuras de seus filhos: como eles são em casa, as gracinhas, as travessuras, o jeito engraçado como falam. E sempre quando fazem isso os olhos brilham de orgulho, sem excessão.

- Para trabalhar com crianças tem que gostar de criança. Simples assim. Elas dão trabalho, quando estão em grupo podem fazer coisas que até Deus duvida, mas se quem cuida deles ama o que faz isso tudo é encarado com naturalidade e até as broncas e os castigos ficam mais leves e esse amor se reflete em casa, com crianças mais felizes, mais tranquilas e amorosas.

- A grande maioria das crianças come de tudo na escola e em casa não.

- A grande maioria das crianças não entende que o dia do brinquedo é só na sexta-feira.

- A grande maioria dos pais não entende que o dia do brinquedo é só na sexta-feira (ops).








segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Pra fazer do limão, uma limonada.

O Francisco continua na fase de não experimentar novidades alimentares. E quem é mãe sabe o quanto o tema alimentação rende no dia-a-dia dos pequenos.
Uma criança que não come nos frustra, nos causa um sentimento de culpa e, não raras as vezes, nos deixa em pânico. Como assim, não quer comer? E nestes poucos três anos de experiência como mãe uma coisa eu aprendi: não adianta nada forçar.
Lembro-me muito bem da única vez que tentei empurrar comida goela abaixo no Francisco e levei um prato de lentilha na cabeça. É ÓBVIO que ele foi duramente repreendido, que ficou sem comer até a próxima refeição, que teve que pensar na sua atitude. Mas lá no fundo, sei que agi errado.
Forçar só faz a criança ver o momento de comer como um fardo, algo complicado e pouco prazeroso. E se ela não está com fome naquele momento (e pode ser sincero), deixa pra lá, curte a refeição e guarda o prato dela no forno, quando bater a fome, ofereça a mesma coisa e ela vai comer bem feliz.
No quesito não experimentar alimentos novos inventamos uma brincadeira em casa que tem funcionado, pelo menos pra romper a barreira da primeira garfada. Chama-se adivinha o que é.
É bem simples, pega o alimento e diz "abre a boca e fecha os olhos". Quando a criança estiver pronta, coloca o alimento em sua boca e pede pra adivinhar o que é. E repete isso com seu marido, ou com a vó ou com outra pessoa da casa. Dia desses ele experimentou atum, tomate cereja e pimentão, este último quase colocando todos os anteriores pra fora. Mas experimentou. E por causa da brincadeira, tem tido mais facilidade para aceitar o novo. Ontem, mesmo achando muito estranho ter um peixe rosa servido no almoço (salmão) ele experimentou e encerrou com um "não quero mais, obrigada", mas provou.
E outra coisa que tem funcionado é envolver o Francisco comigo e o Fabricio no preparo das refeições. Ele nos ajuda a temperar os alimentos, lava as folhas pra fazer a salada, experimenta enquanto estamos cozinhando e até dá palpite no que gostaria de comer no almoço ou no jantar. Assim ele vai aprendendo sobre os alimentos de um jeito bem divertido e quando servimos tem aquela sensação de "fui eu que fiz" e aí curte mais o momento de estarmos juntos apreciando uma bela refeição em família.
E a sobremesa? Ah, esta não é prêmio, e sim, a continuação da refeição. Se comeu, o próximo ítem é a sobremesa, se não comeu, sinto muito.
E assim a gente vai, uma refeição de cada vez com paciência e persistência, sempre.