Eu nunca morei sozinha.
Grande parte da minha vida eu
passei dividindo o quarto com a minha irmã e depois, fui dividir o quarto com o
meu marido.
E acho que por isso eu sempre tive dificuldade de ficar
sozinha.
Dormir sozinha? Nem pensar. Só se tivesse a TV ligada, me
fazendo companhia.
Sempre gostei de estar no meio de gente, no burburinho, na
companhia de alguém.
Mas o tempo foi passando e com a chegada dos filhos a casa
foi enchendo - de barulho, de brinquedos, de atividades, de rotina - que são
raros os momentos em que estou só comigo mesma.
Têm dias que sinto uma falta de mim. Há dias em que parece
que me perdi no meio do caminho.
Não lembro de passar o hidratante, esqueço do perfume, não
lembro quando foi a última vez que parei para ler um livro.
Fazia tanto tempo que não me fazia companhia. Mas hoje, tive
a oportunidade de me reencontrar comigo mesma.
Eu só começava a trabalhar à tarde, mas o Fabricio tinha que
ir de manhã. Como a escolinha abriu normalmente, levantei cedinho, como de
costume, tomei café, arrumei o Francisco e o Caetano e levei pra escola. E com
isso, ganhei algumas horas só pra mim.
Pode parecer pouco, mas quem tem filhos sabe como é raro
tomar um banho mais demorado, ver o que se está a fim na TV, ouvir o som que se
quer a hora que se quer.
Leva tempo pra retomar estas coisinhas simples.
Quantas vezes eu já fiz xixi (ou até cocô) com o Caetano
pendurado nas minhas pernas.
Quantas vezes me atirei exausta no sofá e dois segundos
depois o Francisco grita "manhêêêêêê".
Hoje nestas poucas horas só minhas fiz tudo o que eu tive
vontade: organizei gavetas (amo fazer isso). Separei roupas pra doação.
Devolvi brinquedos e roupas que ganhei e que não usaria
mais. Uma faxina daquelas com duplo sentido.
E entre uma gaveta e outra fui lembrando de como é bom estar
comigo mesma. Sem culpa, sem pensar que é errado querer um tempo pra si mesmo.
Depois tomei um banho despreocupado, passei meu melhor
hidratante, meu perfume preferido, fiz um make levinho e fui trabalhar com uma
sensação de leveza, de paz.
Uma sensação de gratidão por tudo o que a vida tem me
proporcionado e tudo que ainda tem por vir.
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