quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Ser mãe é uma gangorra.

Quem disse que ser mãe é um mar de rosas?
Quem disse que trabalhar - mesmo sendo com o que se gosta - é um mar de rosas?
Quem disse que casamento ou qualquer relacionamento é um mar de rosas?
A vida é uma eterna gangorra, com altos e baixos o tempo todo e acho que é aí, nesta inconstância, que está o segredo para seguirmos em frente.
O 'desafio da maternidade', que tem gerado tanta polêmica, foi só mais uma destas brincadeiras sem muitas pretensões, mas que despertou nas pessoas sentimentos diferentes.
Afinal, não somos todos iguais. Nossas experiências não são iguais. 
E a maternidade tem várias nuances.
Eu sou mãe de dois meninos. Um de seis anos e outro de dez meses. 
Não fui mãe por pressão da sociedade. 
Ou por pressão do meu marido.
Não fui mãe por que acho que minha vida só seria completa se eu tivesse filhos.
Fui mãe por que eu quis.
Mas mesmo querendo muito, ser mãe não foi - e não é - fácil.
Eu acredito que tornar-se mãe é uma mistura de alegria e dor o tempo todo.
O primeiro ano de um bebê é cheio de desafios. 
Eu acho os primeiros três meses uma fase tão difícil que muitas vezes me perguntei "o que eu fui fazer da minha vida?". 
É desumano passar noites sem dormir. 
Não ter tempo de comer, ou de tomar banho. Ou se dar conta lá pelas onze da noite que tu ainda está de pijama.
É desumano perder a autonomia e ter que reorganizar a vida em torno daquele pequeno ser que precisa da gente para absolutamente tudo e não sabe sequer dizer o que quer.
Há dias em que a estafa física te deixa a beira de um ataque de nervos.
Têm dias em que o ataque de nervos é inevitável e o choro vem, e o desespero vem e a gente surta mesmo.
Muitas vezes amamentei chorando de dor.
Muitas vezes senti pânico ao ouvir o choro dos meus filhos, por não saber o que fazer.
Não tenho boas lembranças dos meses iniciais.
Tive depressão nos primeiros meses tanto com o Francisco, quanto com o Caetano e precisei de ajuda médica para passar por este período com mais tranqüilidade.
Mesmo que a mãe receba todo o apoio do mundo (do marido, das avós, ou de uma babá) o maior envolvimento recai sobre a mãe. Isto é fato.
Respeito demais as mães que não aceitaram o desafio por não se sentirem confortáveis com isso e mais ainda por expor este "lado B" da maternidade.
Mas o desafio pedia "momentos felizes". Talvez este tenha sido o erro. 
Respeito muito quem não quer ter filhos. Nem todo mundo quer.
Não acredito que para ser completa uma mulher precisa ser mãe.
Não acredito que todas as mulheres nasceram para ser mães.
Não acredito que uma mulher passe pela maternidade achando tudo o máximo e resolvendo com maestria e sorriso no rosto todos os problemas.
Não acredito que quem está pensando em ser mãe pense que vai ser fácil ou ache que vai ser feliz o tempo todo.
Mas eu acredito no amor e em tudo o que somos capazes de superar e fazer por amor.
E sei que mesmo sabendo de toda a dor que a maternidade possa causar (e há feridas que vão ficar expostas pro resto da vida) ainda assim, quem deseja ser mãe, quem deseja ter um filho (gerado ou do coração) vai encarar este desafio.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A solidão boa.

Eu nunca morei sozinha.
Grande parte da minha vida eu passei dividindo o quarto com a minha irmã e depois, fui dividir o quarto com o meu marido.                                                                                                                                                                                                                                                        
E acho que por isso eu sempre tive dificuldade de ficar sozinha.
Dormir sozinha? Nem pensar. Só se tivesse a TV ligada, me fazendo companhia.
Sempre gostei de estar no meio de gente, no burburinho, na companhia de alguém.
Mas o tempo foi passando e com a chegada dos filhos a casa foi enchendo - de barulho, de brinquedos, de atividades, de rotina - que são raros os momentos em que estou só comigo mesma.
Têm dias que sinto uma falta de mim. Há dias em que parece que me perdi no meio do caminho.
Não lembro de passar o hidratante, esqueço do perfume, não lembro quando foi a última vez que parei para ler um livro.
Fazia tanto tempo que não me fazia companhia. Mas hoje, tive a oportunidade de me reencontrar comigo mesma.
Eu só começava a trabalhar à tarde, mas o Fabricio tinha que ir de manhã. Como a escolinha abriu normalmente, levantei cedinho, como de costume, tomei café, arrumei o Francisco e o Caetano e levei pra escola. E com isso, ganhei algumas horas só pra mim.
Pode parecer pouco, mas quem tem filhos sabe como é raro tomar um banho mais demorado, ver o que se está a fim na TV, ouvir o som que se quer a hora que se quer.
Leva tempo pra retomar estas coisinhas simples.
Quantas vezes eu já fiz xixi (ou até cocô) com o Caetano pendurado nas minhas pernas.
Quantas vezes me atirei exausta no sofá e dois segundos depois o Francisco grita "manhêêêêêê".
Hoje nestas poucas horas só minhas fiz tudo o que eu tive vontade: organizei gavetas (amo fazer isso). Separei roupas pra doação.
Devolvi brinquedos e roupas que ganhei e que não usaria mais. Uma faxina daquelas com duplo sentido.
E entre uma gaveta e outra fui lembrando de como é bom estar comigo mesma. Sem culpa, sem pensar que é errado querer um tempo pra si mesmo.
Depois tomei um banho despreocupado, passei meu melhor hidratante, meu perfume preferido, fiz um make levinho e fui trabalhar com uma sensação de leveza, de paz.

Uma sensação de gratidão por tudo o que a vida tem me proporcionado e tudo que ainda tem por vir.